Deputado do PS/M na Assembleia da República admite suspender mandato em Lisboa

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Luís Miguel França ameaça bater com a porta

Deputado do PS/M na Assembleia da República admite suspender mandato em Lisboa

"Se as coisas continuarem a seguir este rumo, admito mesmo suspender o meu mandato". A ameaça é do deputado socialista madeirense na Assembleia da República, Luís Miguel França, que assume ao DIÁRIO "diferenças insanáveis" com o grupo parlamentar. 

A gota de água foi o mais recente diploma relacionado com a Região em discussão no parlamento. Os socialistas estão contra uma alteração ao modelo de subsídio de mobilidade para residentes nas suas deslocações ao continente e assumiram que não viabilizarão nenhuma solução apresentada. Mesmo a iniciativa do CDS-PP que visa alargar o reembolso de 60 euros às deslocações marítimas, que foi aprovada na generalidade por todos os grupos parlamentares, mereceu o voto contra do PS. Agora foi criado um grupo de trabalho na Comissão de Obras Públicas, Transportes e Comunicações para discutir esta matéria, que conta com dois deputados da Região - Vânia Jesus (PSD) e José Manuel Rodrigues (CDS-PP) - e que deixou de fora o socialista. Luís Miguel França nem marcou presença nas reuniões. "Eu entendo que não possa representar o partido numa matéria onde tenho uma posição divergente, mas podia pelo mesmo ser convidado a participar e dar a minha opinião num assunto que me é próximo", lamenta.

Ataque cerrado a Sócrates

O deputado não poupa o seu partido, nem o Governo da República, a quem acusa de "comportamento bipolar" em relação à Madeira. "Consegue comportamentos exemplares, como no caso da Lei de Meios, mas depois abre a porta ao Governo Regional para gastar o dinheiro da reconstrução da forma que bem entender, numa posição contrária ao PS-M", exemplifica. E prossegue: "Numa matéria tão sensível como o transporte aéreo [o Governo da República] não consegue ver que o que está em causa é o princípio da continuidade territorial".

Desde o início da legislatura, o deputado tem estado por diversas vezes em desacordo com o grupo parlamentar. Começou na discussão da Lei de Finanças Regionais, onde votou ao lado da oposição contra o PS, depois na questão da devolução de IRS para os municípios insulares e na proposta de alteração ao Orçamento de Estado que flexibilizava a Lei de Meios, de forma a que o Governo Regional pudesse repor o que já havia gasto. Mesmo quando não furou a disciplina partidária tem recorrido à apresentação de declarações de voto. "É claro que há algum constrangimento", reconhece, admitindo mesmo "um certo mal estar".

Sena Lino pode entrar

O deputado madeirense tem tido uma participação muito discreta nas actividades do grupo parlamentar, sobretudo as de âmbito nacional. Durante os meses em que esteve na comissão de Orçamento nunca foi escolhido para ser relator e foi só na passagem para a comissão de Ética que se estreou nessa função, com um relatório sobre a discussão do panorama da imprensa escrita na Região, levado a cabo na AR.

Luís Miguel França é jornalista do quadro da RTP e foi convidado pelo anterior líder do partido, João Carlos Gouveia, para ser número dois numa lista encabeçada por Bernardo Trindade. O PS só conseguiu eleger um deputado na Madeira nas legislativas de 2009, tendo perdido dois representantes. O profissional da televisão pública acabaria por substituir Bernardo Trindade, que foi convidado a manter a pasta do turismo. Se sair antes do mandato deve dar lugar a Isabel Sena Lino, a terceira da lista.

O PS nacional está cada vez mais de costas voltadas para a estrutura regional. De tal forma que o líder Jacinto Serrão até já faz lamentos na sua página do Facebook a propósito das visitas dos ministros do PS à Região.